Eficácia de dois antimicrobianos para tratamento de mastite clínica

Eficácia de dois antimicrobianos para tratamento de mastite clínica

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Por Marcos Veiga Santos – postado em 30/08/2016

Figura 1 – Taxas de cura clínica e bacteriológica de casos de mastite clínica, e de novas infecções intramamárias ocorridos em vacas leiteiras de acordo com os protocolos terapêuticos utilizados.
Figura 1 – Taxas de cura clínica e bacteriológica de casos de mastite clínica, e de novas infecções intramamárias ocorridos em vacas leiteiras de acordo com os protocolos terapêuticos utilizados.

Tiago Tomazi*
Marcos Veiga dos Santos

A terapia antimicrobiana por via intramamária continua sendo uma das principais formas de tratamento de mastite clínica em vacas leiteiras. A busca de tratamentos com antimicrobianos específicos contra os agentes causadores de infecções intramamárias (IIM) aumenta a eliminação do micro-organismo, e consequentemente, reduz os gastos com medicamentos e descarte de leite.

Antimicrobianos à base de ceftiofur têm sido bastante utilizados em rebanhos leiteiros, especialmente em protocolos terapêuticos de mastite clínica. O ceftiofur é um antibiótico de amplo espectro, composto de uma cefalosporina de terceira geração, o qual é efetivo contra patógenos Gram-positivos e Gram-negativos. Estudos prévios avaliaram a eficácia do cloridrato de ceftiofur usado em protocolos com diferentes períodos de tratamento e/ou vias de aplicação. No entanto, são escassos estudos que avaliaram a eficácia da tratamento intramamário com ceftiofur em comparação com outros antimicrobianos de amplo espectro disponíveis no mercado. Estudos comparando antimicrobianos comercialmente disponíveis auxiliam o produtor e veterinário na determinação de quais resultados de cura podem ser esperados para o tratamento da mastite clínica.

Em um estudo recente desenvolvido pela equipe do Laboratório Qualileite FMVZ-USP, um produto a base de cloridrato de ceftiofur aplicado por via intramamária para tratamento da mastite clínica foi comparado a uma associação de antimicrobianos de amplo espectro comercialmente disponível. Um total de onze rebanhos distribuídos nos estados de São Paulo (n=2), Minas Gerais (n=2) e Paraná (n=7) foram incluídos no estudo. Os rebanhos tinham em média 534 vacas em lactação (variando de 130 a 2.100), todas alojadas em sistema free-stall e com produção média de 29,5 ± 5,3 litros/dia. A média mensal de CCS dos rebanhos variou de 190.000 a 700.000 células/mL.

Após o diagnóstico, as vacas com mastite clínica foram aleatoriamente distribuídas em dois grupos de tratamento, ambos com infusões intramamárias (uma vez ao dia durante quatro dias) de um dos seguintes compostos antimicrobianos: (1) cloridrato de ceftiofur (125 mg); ou (2) tetraciclina 200 mg + neomicina 250 mg + bacitracina 28 mg + prednisolona 10 mg. Vacas tratadas com ceftiofur que apresentaram mastite moderada receberam uma aplicação intramuscular diária de flumetasona 5 mg durante os primeiros dois dias de tratamento, visto que este produto não possui anti-inflamatório em sua composição. Apenas vacas diagnosticadas com casos leves (presença de alteração das características do leite) ou moderados (alteração das características do leite acompanhada de sintomas clínicos localizados no úbere) foram avaliadas no estudo. Vacas com histórico com mais de 3 casos de mastite na lactação não foram incluídas no estudo. Os casos graves de mastite clínica (IIM com envolvimento sistêmico) foram tratados com os protocolos específicos de cada rebanho e não foram avaliados neste estudo.

Amostras de leite foram coletadas de forma asséptica para cultura microbiológica no momento do diagnóstico do caso de mastite clínica e aos 14 ±3 e 21 ±3 dias após o tratamento. A cura clínica foi determinada pela presença de características normais do leite e úbere em avaliações realizadas após o término do tratamento e até 21 dias pós-tratamento. A cura bacteriológica foi determinada pela ausência da mesma espécie de micro-organismo identificada no momento do diagnóstico em ambas as amostras coletadas após o tratamento. Casos de nova IIM foram determinados pela presença de qualquer espécie de micro-organismo diferente daquela isolada na amostra coletada no momento do diagnóstico em qualquer das duas culturas realizadas após o tratamento.

A distribuição dos agentes causadores de mastite foi similar entre os grupos de tratamento, nas amostras coletadas no momento do diagnóstico. Um total de 132 culturas (50%) não apresentou crescimento microbiológico em 48 horas de incubação. Cento e cinco casos (39,8%) foram causados por bactérias gram-positivas, enquanto 27 (10,2%) foram causados por bactérias gram-negativas. Streptococcus agalactiae foi o principal patógeno Gram-positivo isolado (n=24; 9,1%), seguido de Staphylococcus aureus (n=20; 7,6%) e Staphylococcus coagulase negativa (n=20; 7,6%). Klebsiella spp. (n=12; 4,5%) e Escherichia coli (n=11; 4,2%), foram os principais patógenos gram-negativos isolados dos casos de mastite clínica.

Um total de 130 casos foi avaliado no grupo tratado com ceftiofur, enquanto que 134 casos foram tratados com a terapia controle. A taxa de cura clínica, cura bacteriológica, e risco de novas IIM foi similar entre os dois grupos de tratamentos (Figura 1). A taxa de cura clínica foi de 79% para as vacas tratadas com ceftiofur e de 74% para as vacas tratadas com o medicamento a base de associação de tetraciclina, neomicina e bacitracina (controle). A taxa de cura bacteriológica foi de 79% para as vacas tratadas com ceftiofur e de 76% para as vacas do grupo controle. O risco de novas IIM foi de 10% para as vacas tratadas com ceftiofur e de 11% para as vacas do grupo controle.

Ambas as formulações avaliadas neste estudo apresentaram altas taxas de cura clínica e bacteriológica de casos não-graves de mastite clínica. Estudos similares a este, em que produtos comercialmente disponíveis são comparados entre si, podem auxiliar na tomada de decisão quanto à terapia da mastite clínica em rebanhos leiteiros.

Fonte: Cortinhas, et al. Randomized clinical trial comparing ceftiofur hydrochloride with a positive control protocol for intramammary treatment of nonsevere clinical mastitis in dairy cows. J. Dairy Sci. 99:5619–5628. 2016.

*Tiago Tomazi é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Produção Animal da FMVZ/USP e atualmente está realizando um estágio de pesquisa na Universidade de Cornell (EUA).

 

*Marcos Veiga Santos: Professor Associado da FMVZ-USP Qualileite/FMVZ-USP Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225 Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP Pirassununga-SP 13635-900 19 3565 4260

Matéria disponível em: www.milkpoint.com.br

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